Com o corpo todo retorcido, que tentava prender o resto de calor sugado pelo frio, a menina levantou a cabeça. Tudo branco. A paisagem era fúnebre, ao mesmo tempo que linda. O céu estava encoberto por nuvens cinzas e pesadas que não deixavam a luz do sol passar. Os corvos pretos e gordos grunhido davam mais veracidade a imagem de filme de suspense. A única cor que podia se ver vinha dos tijolos vermelhos da casa ao lado e de algumas poucas folhas marrons e amarelas que, pendidas das árvores, resistiam ao frio. O resto, tudo encoberto pelo branco.
No dia anterior nevara muito. Talvez não muito para os habitantes do local, mas muito para a menina que não estava acostumada com tudo aquilo.
A neve era escorregadia, isso ela já tinha aprendido, por isso andava com cautela à passos curtos e lentos, não temia chegar atrasada, tinha tempo de sobra. O importante agora era não escorregar no piso traiçoeiro.
Ela já estava acostumada a ser normalmente desajeitada, mas com essas roupas de frio que deixavam ela extremamente maior do que o normal tudo parecia um obstáculo a ser vencido. Os movimentos pequenos que tinha que fazer por causa da dificuldade de andar a irritavam um pouco, mas decidida a não perder a paciência, resolveu aproveitar o tempo e prestar atenção nas sutilezas que deixamos de lado na habitual correria diária.
O dia pincelado a tons escuros davam um ar poético e melancólico a caminhada, ninguém parecia querer sair de casa, a rua estava deserta. Provavelmente todos estavam desfrutando da preguiça acompanhados por um chocolate quente e uma lareira acesa." Nada melhor para um tempo como esse."-deviam pensar. No entanto, enquanto parecia que todo o resto do mundo estava instalado confortavelmente no sofá de suas respectivas casas, a menina estava a vencer o frio lá fora.
E que frio, que caminhada. O caminho a ser percorrido sempre parece maior quando se tem de companhia um tempo desses. Ao menos já não neva tanto.
Chegando a muito custo no local onde geralmente pega o ônibus para casa, ela esperou. Esperou e esperou. Os ônibus atrasam quando se tem neve, isso ela também já tinha aprendido, no dia anterior. Focou sua concentração em devaneios agradáveis, donde bebericava da bebida quente e se aquecia com a ajuda da lareira queimando, como o resto do mundo fazia agora.
Logo estaria assim também, em casa.
A garota pensou outra vez "Em casa". Depois de quase quatro meses compartilhando de outro mundo ela se deu conta, estava em casa. E era assim que se sentia.